APRESENTAÇÃO
O Projeto "Resid(u)o”, utiliza resíduos e materiais não convencionais, restos de têxteis das confecções brasileiras, plásticos, metais, papéis, madeiras, assim como outros materiais orgânicos e inorgânicos, pigmentos naturais, minerais e outros materiais entendidos como descartes das indústrias, resíduos públicos ou domésticos.
Entende-se ainda como “residual” para este projeto, tudo que resta, sobra, resto, resquício, sobejo, refugo, borra, sedimento, detrito, desperdício, despojo, escória, rejeito, substrato, despejo, lixo, efluente, sujo, lia, excremento, fezes, vestígios, destroços, ruínas, sinais, sequelas. Neste sentido amplo do termo, poderão ser empregados elementos “residuais” não palpáveis ou sensoriais, que estimulam os 5 elementos para esta temática. O prefixo “Resid” traz o entendimento ao projeto pelo olhar do artista, as questões de permanência, resistência, residência. Algumas pesquisas apontam que o significado de resistir, teve origem do latim resistere, que vem de stare, significa manter-se de pé, contrariar a gravidade – ou seja, está na base da nossa própria história, enquanto humanos, é neste contexto que a coleção será inspirada. Esses materiais serão empregados em esculturas, pinturas e objetos físicos ou sensoriais, destinados à uma Exposição pública dessas obras. Integram ainda neste projeto, estudos da matéria-prima utilizada e oficinas de artes nos ambientes de coleta desses materiais.
A instalação proposta está profundamente ligada ao estudo do ambiente, ou ambiência, e a interação destes elementos com seu ambiente onde foram coletados os objetos. Neste contexto o projeto tem grandes influências do movimento da arte Povera, com usos de materiais orgânicos e não convencionais, mas de caráter inovador, traz questões primordiais contemporâneas como a problemática dos resíduos. O objetivo desta proposta de instalação é experimentar esses resíduos, questionar a sua residência e sua interação com o meio e os indivíduos/elementos, seus aspectos tangíveis e intangíveis, a fim de proporcionar ao expectador reflexões sobre a matéria, o espaço em si, suas interações e possibilidades.
Já o termo ambiência tem origem do francês “ambiance” e pode ser também traduzido como meio ambiente – não é só o “meio material”, mas pelo efeito moral que esse meio físico induz no comportamento dos indivíduos. O ambiente construído é um anteparo existencial, sendo abrigo para o corpo e para a alma. Neste sentido a relação do ambiente e seus integrantes dialogam para a interpretação do artista sobre esses materiais.
A temática dos resíduos está diretamente ligada à sustentabilidade, na qual é o eixo central de todos os meus trabalhos transdisciplinares, sejam eles na arte têxtil, cinema, pintura e pesquisa científica. As problemáticas ambientais das grandes metrópoles influem direta e indiretamente a vida das pessoas e o meio. O que está por trás do resíduo? A arte dá a possibilidade além da transformação e da estética, reflexões profundas sobre o tema, e traz aqui o questionamento envolvendo o ambiente material e imaterial e suas interações.
As obras propostas devem carregar em si, mesmo que de maneira invisível ao olho do público, um aprofundamento do material em todas suas vertentes, seja pelo estudo prévio tecnicista em si dos elementos que compõem os resíduos utilizados, como os estudos do resultado de sua interação com o meio e o entendimento de sua funcionalidade anterior, além da transgressão através do olhar do artista, na qual a arte em seu papel primordial, a fim de estimular sensorialmente novas reflexões e questionamentos.